A nominal independência política do Brasil, proclamada em 7 de setembro de 1822, não significou a independência do povo brasileiro. Pelo menos para a maior parte dele. A elite econômica da época acabou criando um liberalismo sui generis no Brasil, que visava à garantia de seus interesses: a manutenção da escravidão, a concentração da propriedade da terra e a consolidação da unidade imperial. Paradoxalmente, o escravo, que era "coisa" para o direito civil e "mercadoria" para a economia da época, podia ser sujeito ativo de crimes. Ironia perversa de nosso liberalismo: O escravo só seria reconhecido como ser humano ao praticar crimes. Sua "independência civil" muita vez só era alcançada com sua condenação à morte. A criminalização do negro no Brasil imperial estava diretamente relacionada ao fantasma das rebeliões que afligia as elites da época. O medo do negro, do pobre, da rebelião que aflige o inconsciente coletivo da elite brasileira até os dias de hoje. O medo continua. A reação natural ao medo é a guerra ao inimigo, pois somente sua exclusão - sua morte - trará paz. No dilema entre independência ou morte, a elite brasileira optou por sua independência à custa da morte dos mais pobres. A solução repressiva, no entanto, gera uma nova dependência das elites: dependência do seu próprio medo. Os independentes estão presos em suas casas muradas, em seus carros blindados e em seus shopping centers. Para que portugal reconhecesse sua independência política, o governo de D. Pedro I concordou em pagar-lhe 2 milhões de libras como compensação pela perda da antiga colônia. Para que o Brasil se reconheça como independente, as elites econômicas terão que pagar às camadas pobres da população seus direitos a educação, saúde, trabalho, moradia e tantos outros garantidos na Constituição de 1988. A elite brasileira só proclamará a independência de seus medos, quando indenizar os grupos de baixa renda pela miséria, pela exploração e pelas mortes causadas. O dilema entre independência ou morte só se resolverá quando a independência de uns não estiver mais condicionada à morte dos demais. Só assim os pobres se libertarão de seus cárceres e os ricos de seus medos.
Fonte: "Toda a história", 13.ª edição, p. 359, José Jobson de A. Arruda e Nelson Piletti
Fonte: "Toda a história", 13.ª edição, p. 359, José Jobson de A. Arruda e Nelson Piletti
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